Uma inédita ode juvenil do pensador Catatau Vincennes

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Decorreu ontem, na Fondation Franco-Portugaise La Funac, uma sessão cultural em homenagem ao inesgotável pensador Catatau Vincennes, organizada por sua filha Manga Vincennes, a qual prepara, para edição, não se sabe ainda se na Porco Editora ou na Martírio & Capim, Os Papéis Perdidos de Catatau Vincennes. Acedi, com bastante relutância, a participar, dado que possuo vazadouro particular, mas, enfim, não pude escusar-me ao simpático e inebriante convite com que fui pessoalmente alvejado pela gentil Manga Vincennes. Amiga dileta, Manga Vincennes concedeu-me a autorização necessária para aqui publicar uma ode inédita de seu mastodôntico pai, depois de o próprio ma ter facultado sob a égide destas significativas e afectuosas palavras: «Toma lá um inédito para a tua sentina literária e passa para cá cinquenta euros». Quis, naturalmente, coibir-me, dada a ocasião emérita e o prestígio dos presentes, de explicar ao meu Amigo, à semelhança de vezes anteriores, a diferença existente entre sentina e vazadouro, mas a isso me vi obrigado, graças à teimosia elucidante da poetisa Abília Calotes, infelizmente atenta à ocasião.

 

Do mundo foragidos

Do mundo foragidos, por ínvios trilhos e arvoredos,
Na solidão dos campos, renegados de conselhos,
Ledos corríamos, movidos só por húmidos segredos…
Na palha do gado copulávamos que nem coelhos…
Nossos semblantes, transpirados e vermelhos,
Irradiavam a felicidade dos amantes condenados!
Condenados, ah sim, perdidos também, mas fartados!

E soíamos depois do mundo fugir sem receio,
Tomar autocarros, cavalos ou carroça sem freio
Buscando na dissipada, triste linha do horizonte
Um país onde fôssemos, à vez, a água e a fonte;
E não estes dois renegados fugidos, a monte,
Como vulgares contrabandistas, infectos bandidos…
Fujamos, Amada, até do mundo sermos esquecidos!

 

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Jovem numa praia lendo e sublinhando um livro do pensador português Catatau Vincennes